WEBTOON | Freaking Romance

Se você gosta de ler e busca um romance divertido, com piada a la “tiozão”, que aborda questões sérias de forma “leve” e tem momentos picantes, embrulhados com uma estética do jogo “Love Nikki – Dress Up Queen”, o webtoon “Freaking Romance” foi feito para você!

Webtoon é um termo usado para descrever webcomics ou manhwas sul-coreanos que são publicados online. O portal web Coreano Daum criou um serviço de webtoon, em 2003, assim como a Naver, em 2004. Estes serviços regularmente disponibilizam webtoons de maneira gratuita. Na plataforma onde eu li, Freaking Romance, para ler completo é preciso baixar o aplicativo e usar o daily pass (são 5 daily pass por dia). – Mas, vamos ao que importa!

Os personagens

Zylith, a nossa protagonista de Freaking Romance, é uma jovem de 18 anos que está buscando um lugar para morar sozinha e quer estudar/trabalhar com desenho. Impulsiva, engraçada, direta, meio sem noção e bem carinhosa, tem um humor meio “tiozão”, faz piada como um meio de lidar com a sua vida. Parece ser extrovertida, mas tem dificuldade de se abrir. Possivelmente bissexual, morre de medo do amor e adora um lance erótico. Ama desenhar, especialmente pessoas bonitas em posições interessantes, e quer trabalhar com isso. Se interessa por coisas paranormais e filmes de terror e tem um gatinho – que é a coisa mais fofa, porque gatos são fofos e você também deveria curtir – que se chama MR. PURRFECT.

Nossa prota tem uma melhor amiga/o não binária/o, Verose, que tem um sotaque australiano sexy e, definitivamente, é ‘A pessoa sensata’ do rolê, com quem pode contar o tempo todo e que está sempre a puxando  para a realidade. Durona, mas cuidadosa. Não é daquelas que permite alguém entrar em sua vida com facilidade, mas uma vez que está conquistada, tende a cuidar de quem a/o conquistou. Bem resolvida/o sobre o que quer para si. Gosta de mulheres. Além da Zylith, Verose tem um amigo chamado Seppi, que aparece pouco.

A Mãe da Zylith é uma mulher um tanto apagada da história, que aparece pouco, mas produz um grande impacto na vida da Zylith. O genitor por outro lado, podia não estar lá. Manipulador, agressivo, deixou profundas marcas na Zylith.

 Zelan Lycas, é um jovem, lindo, romântico e misterioso que habita no mesmo apartamento de Zylith, neste webtoon Freaking Romance. ~ Sim, porque a gente adora essas putarias, né, mona? ~ Ele é lindo, romântico, aberto, tímido, mas com um lado selvagem. Sua vida de artista é bem puxada, e ele tem que ser e estar impecável, ainda que por dentro esteja se sentindo o oposto. Tem de ser “o manequim sorridente”, quando precisa de alguém para acolher sua dor. E quanto a isso, não sei como eu sobreviveria todo “hate” e pressão que ele sofre. Afinal, artistas têm famílias, artistas erram, artistas ficam exaustos. Há um processo de objetificar o artista e exigir que ele preencha ideais não humanos de perfeição. Não tem como ele acertar. Nunca. E ninguém se importa com o sofrimento dele. ~ Seria essa uma crítica à vida dos Idols, na Coreia do Sul?

Zelan tem um irmão mais novo, Aushi Lycas, que parece ser um menino mimado, que não liga muito para ninguém, nem mesmo para o irmão. Mas que no fundo, age assim porque acredita que permite o outro ser feliz. Infelizmente temos pouco dele e seu lindo cabelo rosa!

Além deles, temos dois personagens que produzem o elemento assustador da história: George e Misty, que foram os locatários anteriores do apartamento da Zylith.

Por fim, temos o Repair, um personagem que é difícil de falar sobre. É impactante, que já aparece para causar. Nunca se define exatamente quem ou o que é, mas desempenha um papel muito importante, não só para a vida dos protagonistas, mas de todo universo de Freaking Romance. Tenho algumas teorias interessantes sobre ele, que adoraria conversar sobre.

O que podemos esperar?

Para aqueles que gostam de histórias alternativas, esse webtoon é perfeito, mas você precisa ser aberto para a temática LGBTQIA+. Se for, vem junto, porque essa é uma excelente história, porque temos pessoas bissexuais, outras não binárias! ♡ (para quem não entende, mas deseja conhecer melhor sobre as identidades e as orientações: https://ieg.ufsc.br/noticias/497)

Freaking Romance foi meu primeiro contato com os webtoons – e que encontro feliz!!! Agora, quando veremos a adaptação para as telas? Preciso!

Vamos falar da estética! Eu amei os traços, as cores e as composições. Os personagens são todos lindos e estilosos! – Deu até vontade de colorir o cabelo igual ao do Aushi (T.T)

Além disso, o autor consegue fazer transparecer os sentimentos dos personagens. Quando tensa, uma das personagens transpira excessivamente e o autor mostra isso de um jeito divertido e bonito. – O que é difícil!!!

O autor é muito criativo e brincalhão, usa de metalinguagem várias vezes. E, ainda por cima, ele cita Dr. Who.

Além de provocar risos e outros sentimentos, o autor traz para o debate a seguinte questão “O que é amor?”  e deixa bem óbvio que violência e abuso não é amor. Para mim, amor romântico é encontrar um parceiro que te faça se sentir “em casa”, te acolha e com quem você escolhe estar. E para vocês?

Contudo, ainda, o autor aborda os ciclos da violência doméstica, que muitas vezes começa com violência verbal e pode se transformar em violências físicas.

O enredo

Quanto à estória, o autor aborda temas como amor, família, abuso, sexualidade de forma cômica, leve e dinâmica. Ele nos leva a refletir sobre nossas próprias marcas, sobre a relevância de relações saudáveis e de ser aberto ao diálogo.

O Freaking Romance tem viradas interessantes, brinca com clichês, apresenta as visões de diferentes personagens sobre o mesmo evento e mostra o crescimento delas, conferindo-lhes mais dimensão. A Zylith é uma jovem muito engraçada e tem um humor com a qual me identifiquei de cara. Ela está em busca de um novo lugar para morar e passa uns perrengues até conseguir se estabelecer. Quando finalmente encontra o lugar ideal, ela é informada de que há assombrações por lá.

Quem nunca viu um filme de pessoas indo morar em lugar assombrado, caindo aos pedaços e pensou “o que leva uma pessoa a querer morar aí? O lugar está em frangalhos e ainda tem fantasma? Se fosse eu ligava para advogada e dava um jeito de fugir desse contrato”. Mas, esse não é o caso do apê da Zylith, que é super lindo, limpo e bem frequentado. – Se é que você me entende.

Começamos a estória com a perspectiva da Zylith e depois vamos vendo a perspectiva do Zelan sobre os mesmos eventos (o que rende boas risadas). E, a partir daí, vamos descobrindo, junto com os personagens, a dinâmica dos universos deles. Como fã de ficção científica e fantasia, fiquei ainda mais empolgada com a ideia de multiversos. – Se segura, DC!

Freaking Romance tem vários momentos memoráveis e outros bem questionáveis, do ponto de vista social. Para começar, e entrando em um papo mais pesado, temos o pai da Zylith que encena uma violência doméstica. De maneira resumida, ele a expulsa de casa, sem nenhum aviso e, portanto, sem tempo para que ela buscasse um apartamento. Conforme vamos avançando na estória, vemos que isso é só a ponta do iceberg. Depois que ela acha esse lugar legal e junta dinheiro para participar de um concurso de desenho, o genitor – porque chamar aquele sujeito de pai, não dá – aparece dizendo que a conta dela está vinculada ao nome dele e que ele esvaziou a conta e só devolveria uma parte ínfima do valor, se ela se inscrevesse no curso que ele escolheu para ela. – Lembra muito a história da Tutoria da Britney Spears? Sim ou claro?

O absurdo da situação é óbvio, porém, o genitor, sob a desculpa de que “está fazendo isso por amor”, comete uma espécie de violência doméstica: a patrimonial. De acordo com a Lei Maria da Penha, a violência patrimonial é “entendida como qualquer conduta que configura retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades” – grifos meus. – Mais para frente, descobrimos outras atrocidades cometidas por ele e entendemos porque Zylith era revoltada com a mãe. Vale a pena acompanhar!

Conclusão

Eu não li, eu devorei. Foi difícil de largar! Pessoalmente, gosto muito de quem mistura narrativas e de quem usa metalinguagem, trazendo o leitor para perto dos personagens.

Na medida em que vai lendo, descobre mais sobre os personagens e o que os levou até aquelas situações. A estória vai crescendo em um ritmo interessante, ao ponto em que tive a sensação de estar conhecendo aquelas pessoas.

Normalmente, tenho pé atrás com romances, porque os filmes romantizam relações, no mínimo, polêmicas, quando não abertamente abusivas e isso me preocupa. Mas, o autor é cuidadoso em nomear os abusos, apontar os problemas e apresentar diferentes visões sobre o que é amor. Amei ler essa webtoon e já quero ler outras do autor! – Inclusive, têm fãs teorizando que Verose foi baseada no autor (o que me fez querer ainda mais conhecê-lo)!

Falar sobre violência familiar é sempre muito difícil e doloroso, mas acho que o autor conseguiu fazer de uma forma gradual e, para mim, de uma maneira delicada. Isso porque vamos descobrindo as marcas que as personagens carregam e como isso afeta a forma deles se relacionarem. O mais tocante, no entanto, é que todos querem viver e ser felizes.

Sugestões Complementares

Enfim, texto longo e para finalizar gostaria de deixar duas indicações para aqueles que leram Freaking Romance e gostaram:

1. Bonecas russas: minissérie da Netflix – para quem curtiu todo lance de ficção científica.
2. E se fosse verdade: filme que tem na HBO – para quem curtiu o lance de assombração dividindo apartamento (o filme é de 2005 e tem alguns problemas, como piadas um tanto desnecessárias. Mas, em todo caso, fica o aviso).

E sobre isso, é vital enfatizar que violência doméstica é muito grave e as pessoas têm diversos motivos para não conseguir romper os ciclos de violência. Por isso, devemos nos educar, e caso você esteja nessa situação, existem diversos canais de denuncia, dentre eles há o ligue 180. Para saber mais sobre esses ciclos de violência, indico a leitura do Site.

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